sábado, 30 de maio de 2009

A dor da gente sai no jornal

Hoje eu saí com a minha amiga Germana pra tomar um café na Travessa.
Na volta, parei na banca de jornal na esquina da minha casa e vi uma revista semanal com um poeta conhecido na capa falando de dois filhos esquizofrênicos. 
Já estava indo embora quando a ficha caiu. 
Voltei, li a chamada outra vez e comprei a revista que não compro nunca.
Aquilo me impressionou demais.
Que coragem, eu pensei.
Sempre tão festejado pelos belos poemas, pelas posições políticas (com as quais nem sempre compartilho), pela defesa da liberdade...
Estava ali, desnudo, expondo uma dor dilacerante.
Estou muito impressionada até agora.
É muita coragem.
Tudo isso em defesa da internação psiquiátrica.
Pensarei mais nisso.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

João e Lucia

Tenho um cunhado que chegou há pouco tempo na nossa vida.
Se bem que hoje em dia, 8 meses já é tempo à beça!
O cara é bacana.
Chegou devagar e simpático. Mas pisando firme e dizendo a que veio.
Fala tanto quanto o meu marido, que é tarefa para poucos.
Conquistou uma família enorme, que é uma missão quase impossível.
Encarou um bonde inteiro, e foi aprovado sob intensos aplausos.
Ganhou 3 enteadas maravilhosas e de temperamentos fortes, e é amado por todas elas.
De brinde veio uma sogra barulhenta e espetacular, e disputa com o genro mais antigo o amor e a atenção dela.
O cara corre, compõe, rege, dirige a Sala Cecília Meireles e é zero arrogante.
O que já faz dele um ser que merece um crédito a mais, nesse mundo cheio de bobalhões que se acham.
Mas ontem descobri que manda benzão em outro departamento... Cozinha pra caramba!!!
Tem uma casa linda, recebe com um carinho indescritível e faz uma comida... MARAVILHOSA!!!
Mais o vinho, a delicadeza, a música...
Conseguiu levar até a minha filha, que é um sinal de prestígio e tanto!
Ela é uma cozinheira maravilhosa e aprovou com louvor o almoço do tio.
Agora, conquista mesmo foi o coração da minha irmã. Essa tem que ser mesmo motivo de orgulho para ele :)
E eu, como cunhada/sogra que sou, só posso dizer que estou totalmente feliz e apegada!
Amo muito esses dois!

domingo, 24 de maio de 2009

Criando histórias alheias...

A praia estava maravilhosa. O céu azul do Rio no outono é um escândalo!
Já havia corrido mais cedo, já havia encontrado meus amigos e estava conversando em pé com a Lelê, Simone e Sá. Felicidade completa.
De repente, desliguei. Normal. Fiquei prestando atenção em uma mulher com um vestido bacana, um chapéu idem, um marido malhado, uma filhinha bonitinha. Família de Ipanema.
Passou na minha frente, parou junto a um grupo de jovens não ipanemenses... Falou alguma coisa meio exaltada. O grupo de cinco ficou olhando e ela saiu pisando firme. Voltou gesticulando muito com o marido.
A garotada ficou com cara de que não tinha entendido nada.
Continuei prestando atenção e não conseguia entender nada do que falavam. Nem eles, nem ela. E eu me esforçava muito!
Que agonia!
Comecei a criar uma história, claro! Ela havia acusado os meninos de alguma coisa. Preconceito puro! Já comecei a ficar com raiva dela. Precisa? Logo na praia tão democrática, num dia tão bonito? Tudo tão na paz?
Aí, meus amigos perceberam que eu estava muito viajando. "Aloou, cadê você?"
"Ai, gente, estão vendo aquela nareba? Pois é, ela está acusando aqueles meninos de alguma coisa!"
"Quem? Aquela com cara de metida? Com aquele vestido horroroso?"
"O quê? Aquela com aquele chapéu horrendo?"
"É, aquela mesmo!"
Não deu 10 segundos e o Sá já estava agachado conversando com a galera.
E volta rindo... De mim!
Ai, o que foi que eu fiz agora???
"A moça, gentil, estava precupada porque tinha um cara rondando os meninos e que havia assaltado ela antes e veio avisá-los..."
Gargalhada geral... E um coro: "Viajou, hein?"
É, vou tentar me concentrar aqui, só aqui...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Mario Benedetti

Fui apresentada a ele quando estudava no IFCS. Me apaixonei de cara.
Aliás, sempre fui apaixonada por poetas. O primeiro foi Vinicius, quando tinha 12 anos. Depois foi Maiakovisky. E um dia descobri Mario Benedetti.
Mas a poesia dele que foi definitiva na minha vida é Táctica y Estrategia. Não tem outra igual.
Ontem, só li o jornal à noite, quando cheguei do trabalho.
Como todos que convivem comigo sabem, eu leio obituário. É verdade.
E, para minha tristeza, estava lá, naquele quadradinho: morre o poeta Mario Benedetti.
Ele estava velhinho, mas ainda escrevia.
Vejam que coisa mais linda eu descobri aos 18 anos...

Táctica y Estrategia

Mi táctica es
mirarte
aprender como sos
quererte como sos

mi táctica es
hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible

mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo
ni sé con qué pretexto
pero quedarme en vos

mi táctica es
ser franco y saber que sos franca
y que no nos vendamos
simulacros
para que entre los dos
no haya telón
ni abismos

mi estrategia
es en cambio
más profunda
y más simple

mi estrategia
es que un día cualquiera
no sé cómo
ni sé con qué pretexto
por fin me necesites

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Escutando a conversa alheia

Domingo, café da manhã, Paraty.
Como sempre, dou uma viajada e presto atenção à conversa dos outros. É uma mania que tenho. Não me controlo.
Mas também, eram duas senhoras que estavam em uma excursão (ai, desculpem, mas tenho o MAIOR preconceito com excursões...), falando alto pra caramba.
"Eu moro em um lugar, que quando abro a janela vejo um monte de árvores. Aí outro dia, estava lá e chegou um cara da prefeitura pra cortar as árvores."
"Ai, não me diga que cortaram as árvores!!!???"
"Então... Eu disse pra ele: olha só, você É A NATUREZA! Essas árvores SÃO A NATUREZA! Você não pode cortá-las!"
"Ai, então ele não cortou!"
"Não, só podou. Mas agora, a minha casa está TOTALMENTE DEFASADA!!!"
Precisava falar tanta besteira aos gritos?

domingo, 10 de maio de 2009

Jogo da memória

Como se fosse uma rede, sempre fui construindo as relações ao meu redor a partir das referências que vou trazendo a tona.
Como um exercício pra me sentir viva.
Uma época, uma música, aquele fato que ninguém mais lembra e eu jamais esqueci, a foto recuperada na gaveta no momento certo, um cheiro, uma força dada na hora em que eu mais precisava...
Ontem, li uma matéria sobre uma atriz e a história da sua mãe que perdeu a memória pra sempre.
Aquilo me deu uma angústia profunda.
Como assim alguém pode viver sem lembrar quem é a filha, o filho, o marido, os amigos, o que fez, os lugares que conheceu?
Minha memória é alguma das coisas que me dá identidade.
Diz quem eu sou, a que mundo pertenço, a quem a vida me vincula.
Não quero acabar com nada disso.
Hoje começo a tomar um remédio novo.
Minha médica, calmamente, me disse assim: "Ele vai te fazer esquecer os nomes das pessoas. Isso, porque nome de gente é o nosso repertório mais frequente".
Calma aí! Meu repertório frequente é muito maior!
Não quero perder nenhum pedacinho dele.
Isso me aflige. Muito.
Mas tenho certeza que conseguirei criar algum jogo mental em que simplesmente não deixarei que nada se vá.
Nada mesmo.
Portanto, que ninguém se espante se a partir de agora eu não me calar mais.
Dizem que quando contamos e recontamos uma história, ela nunca mais é esquecida.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Conversa de filho com mãe...

Ele está longe e eu morro de saudade. Sinto falta do barulho que faz na casa, das conversas noturnas, da voz alta, dos abraços. Sinto falta dele.
Às vezes vejo sua carinha no computador, escuto sua voz, diminuímos a distância.
Nos falamos sempre.
Quero saber como está. Quero saber o olhar que tem para tudo o que está vivendo.
Quero saber. Essa sou eu como mãe.
Ele vai respondendo. Às vezes com preguiça. Às vezes com muita empolgação.
Sempre feliz. Esse é ele como filho.
Caio foi uma criança linda e livre. Sua liberdade interna permitia que, com um ano, jogasse um pote de tinta na cabeça e morresse de rir.
Permitia que falasse com todas as pessoas na rua. Do vendedor da Cobal, ao mendigo que morava no caminho para a escola.
Permitia que tivesse muitos amigos e que realizasse com eles as maiores bagunças que uma criança pode inventar.
Permitia que só andasse de botas, calça comprida e chicote, porque era um menino apaixonado por cavalos e pela fazenda do pai.
Permitia que se jogasse em cima de mim pra me cobrir de beijos, de carinhos e de declarações de amor infinitas.
Permitia me fazer lutar judô com ele todos os dias, me mostrando todos os golpes, como se eu fosse me tornar a melhor faixa preta do mundo.
Permitia que fizesse todas as perguntas e que tivesse todas as respostas para tudo. Sempre entendeu de todos os assuntos.
Permitia que brincasse com seus bonecos como se estivesse com quinhentas pessoas ao redor e que jogasse futebol como se estivesse com o Maracanã lotado e a torcida fosse toda pra ele.
A liberdade do meu filho fez dele uma criança levada e fascinante.
E fascinante ele continua sendo.
Segunda-feira ficamos muito tempo conversando pelo MSN.
Esqueci de ligar a câmera. Esqueci de falar com voz.
Hoje eu entendo porque...
Pedi que definisse essa viagem em 3 palavras e ele a definiu em 3 frases.
Todas com um olhar maravilhoso.
Depois me contou que ainda no início, quando estava no Porto, foi a um parque lindo...

“(...) com gansos... patos... coelhos... muito lindo mesmo! E vi uma mãe com um filho... ela levando ele pra passear... e ele não parava de falar e fazia encenações pra ela e ela mostrava os bichos pra ele e ele perguntava um monte de coisas... e eu me lembrei da gente saindo da nossa casa no Humaitá pra ir andar só nós dois na lagoa! e eu não me lembro se foram 2 vezes ou se a gente ia sempre.. mas eu me lembro que eu ficava muito feliz quando a gente ia!”

A gente ia sempre, eu respondi. E, claro, já comecei a chorar.
E ele continuou...

“Um dia você escreveu que um dos seus maiores sonhos é que seus filhos tivessem uma infância maravilhosa... E se eu tenho tanto carinho e apego por aquele apartamento do Humaitá... E se eu me lembro com tanta felicidade dessas coisas... E se eu me lembro deu jogando futebol naquele play como se fosse o Romário... E se eu me lembro de você trabalhando, fazendo bolo pra vender... E vendendo camisetas... E óculos! Tudo pra poder dar de tudo pra gente... Hoje tenho certeza de que minha infância foi inesquecível! Eu me orgulho muito de você! E sempre falo isso pra todo mundo! Sempre falo que você é a única pessoa do mundo que é unânime: que todo mundo gosta!”

Esse é o olhar do meu filho.
E essas foram as coisas inesquecíveis que ele escreveu.
Talvez, se tivéssemos conversado e não escrito, ele não teria me feito tantas declarações.
E feito de mim a mãe mais feliz do mundo...

domingo, 3 de maio de 2009

Nada de bolinhas...

Continuo com a saga da minha cabeça.
Bem que eu sempre soube que está tudo concentrado nela.
Digo... Minhas dores, meus problemas, minhas doenças, minha alegria...
Bom, a alegria também posso creditar ao coração.
Mas vá lá... Minha cabeça também comanda minhas risadas, minha eterna disposição de ser feliz.
Às vezes fraquejo um pouco, mas a disposição permanece. Assim como a esperança.
Mas voltando à cabeça, fui outra vez ao consultório da minha médica.
Ela sempre animada e disposta a me animar, me diz que meu exame está ótimo!
De 11 pontos (o que não é bom) do último exame mês passado, passei pra zero!!!
Até pensei em comemorar. Esbocei um leve sorriso de orgulho.
Aí veio a outra notícia. Vou começar um novo remédio que será ótimo, mas tem APENAS dois probleminhas.
Um é que vou esquecer nomes. Isso mesmo. É seletivo... Esquecerei nomes.
Aimeudeus, odeio as pessoas que trocam nomes. Acho de uma falta de educação absoluta.
Não quero fazer parte desse clube nada bacana.
O outro é que não posso beber nada que tenha bolinhas... Isto é, nada com gás.
Como assim? Por quê?
"Bom, é porque no primeiro gole você já sente um gosto horrível, que dá um super enjoo".
Que coisa linda! Fofo, não?
Quer dizer que não posso beber coca zero, nem água com gás, nem champagne...??? Caraca! Nada???
Cosiderando que não posso beber álcool de espécie alguma, nem quase suco algum, me resta água!!!
"É, amigos queridos, nas nossas festas agora terei que ficar animadaça só com água", foi a primeira coisa que pensei.
Bom, se a realidade é essa, fazer o quê?
O que eu sei é que ando adiando o início dessa história, mas não terei muito mais como evitar o inevitável.
O que me resta é ficar com um ponto do meu lado me ajudando a conversar, a chamar as pessoas.
Sei não, será que vou esquecer meu nome também?
"Muito prazer...". Silêncio.
Que falta de glamour. Que coisa mais sem graça.
Mas enquanto ainda tenho alguma memória, percebo que pelo menos posso esquecer nomes que não gostaria nem de ter aprendido. Esses podem ser limados de vez, hahahaha.
Mas tanta coisa pra esquecer, foram me brindar logo com isso?
E um brinde com um copo d'água!?!?
Eu, hein! Ô vida. Ai, ai.