segunda-feira, 30 de junho de 2008

...

Um aperto. Começa bem assim, bem no meio do corpo. No peito.
Não é bem uma vontade de chorar. É mais uma vontade de gritar.
Num primeiro momento, a garganta também fecha. Nenhuma vontade de falar com ninguém. Nenhuma vontade de escutar ninguém. Porque a cabeça não para.
Aliás, é como se só existisse peito, pescoço e cabeça. E ela não para. Fazem barulho até. Os pensamentos. Não os quero, mas são meus. Fui eu que os inventei. Que os trouxe do peito pra cabeça.
O sono não vem. A alegria também não. Mas vem um cansaço, um desapego ao cotidiano. Mas às pessoas não. A elas, todo o apego do mundo. Sempre.
Perco horas tentando achar um meio de tirar o aperto. Não é um sapato. Não é um cinto. É um aperto que não dá pra pegar, não dá pra explicar. Invisível. Silencioso. E ficamos ali, eu e ele. Às vezes convivemos dias. Às vezes meses. Às vezes ele some por muito tempo. Me abandona. Ou sou eu que o tiro daqui.
Quando fica forte demais, até falo pra alguém.
Vem sempre com um movimento da mão em cima do lugar em que ele se instala em mim. Quero tirá-lo, arrancá-lo.
Quando me olho no espelho vejo uma cara assim, de quem está com um aperto no peito.
É diferente de cara de dor. É diferente de cara de agonia. É uma cara parecida com decepção. Com desesperança. Se é que eu sei que caras são essas!
Não sei dizer se é quando ele está mais forte, ou se é quando me dá um tiquinho de paz... Mas tem uma hora que consigo enxergar algumas coisas ao meu redor. Geralmente é de manhã. Levanto com alguma força. Porque sei que vou correr. Vou olhar a Lagoa, o Cristo, o céu azul, as pessoas em vários ritmos. E vou correr muito.
Vou contar cada quilômetro como um aperto a menos. Vou suar muito. Chegar à exaustão.
Depois, ando alguns passos até a minha casa. Tomo um banho, vai embora o suor. Vem uma sensação de muito prazer. De vitória até.
Me olho e sei que agora é uma cara de cansaço. E que o aperto, ainda vai demorar um pouco mais pra me deixar de vez.

domingo, 29 de junho de 2008

La Vergënza - para Olívia

Flequillo. Una chica de flequillo. Y pellos largos. Muy castaños. Muy brillantes.
Ella es así. Los labios gruesos. La sonrisa enorme y linda. Una mirada atenta para darse cuenta de todo.
Pero una vergüüüüüenza, que viene junto de cada palabra que habla. Y también de la que no habla.
Pero ella enfrenta.
A veces la voz sale muy, muy débil. Otras veces, viene junto con la risada. Y sus pequeñitas manos tapando la boca. Que ella usa para disfrazarla.
La vergüenza.
En la escuela ella es repleta de amigas y amigos
Charlan entre ellos Y juegan. Y eligen novios.
Pero en el momento que la profesora pregunta algo... ella vuelve.
Es la vergüenza.
Y entonces se olvida de todo! Es casi miedo. Pero no es miedo. Es casi dolor de vientre. Pero también no es.
No es malo. Es difícil.
En las fiestas, con madre, padre, hermano, abuelo... cualquier persona muy querida que esté cerca, de nada adelanta. Ella llega otra vez. Se queda allí, casi de manos dadas.
¡Parece que todos miran para ella! Y el deseo es que el flequillo quédese laaaaargo.
Pero es la sonrisa que queda muy amarilla.
La boca se mueve trémula. Es casi lloro.
Pero eso ella no permite. Si llorar todos van a mirarla.
¡Qué aburrimiento!
Pero ella va así. En ciertos momentos da un paso para tras.
En otros, intenta esconderse.
¡En cada sitio increíble!
Pero hay veces que pasa días y días pensando. Hasta en la hora de dormirse ella piensa.
Porque no quiere perder tanta cosa así.
Tanto jugueteo. Es preciso hacer algo...
Es entonces, ya que ella siempre está por allí, que prefiere conocerla mejor. La vergüenza.
Puede jugar con ella. ¡Será una aliada!
Puede fingirse que es ella que está con miedo. Dar un susto a ella!
Puede ser su cómplice. ¡Confesar secretos a ella!
¡Puede, puede y puede!
Y entonces, la chica de flequillo, pellos largos y los ojos mayores que el mundo...
podrá hacer todo lo que quiere y sueña.
Y un día, va a subir en un palco, cantar una linda música y oír muchos aplausos.
Y va a abrir una gran sonrisa.
Y cuando mirar para el rincón, ella se quedará allá, emocionada.
Es.
¡La vergüenza!
Cantos. É assim que gosto da minha casa. Em cada canto um pedaço de mim. A cada dia um novo colocar, alguma coisa a contar. Alguma coisa a recolher. A me alimentar.
Tem árvore na beira da varanda. Tem um vento sempre a bater. E que me convida a sair, mesmo gostando tanto de ficar. Tem nossos rostos, nossos abraços, em preto e branco. Nossas viagens, nossos registros. Silenciosos. O barulho, as vozes, as risadas... paralisados ali.
Em cima das estantes, o Rio. Também em preto e branco. Tem as cores de Trancoso nas almofadas. Em cada objeto, um desenho do que eu quero. Ali. Naquele instante em que escolhi e que coloquei ali. Sou eu. Somos nós. Mas que muda. De vez em quando tudo muda.
Nos livros, minha herança. Medos. Sonhos. Projeções. De novo eu.
Penduro móbile. Ponho quadros. O que eu aprendi. Está tudo ali. Tudo aqui. No prato no chão. Nos computadores que não desligam nunca. Nos filhos que fiz. Bagunça. Turbilhão.
É meu acolhimento. São meus conflitos.
Gosto do silêncio das manhãs. Mas também gosto do barulho das conversas. Preciso entrar e saber que posso me calar, posso chorar, posso sorrir. Posso escutar. Posso acolher. Posso ser acolhida.

Me protejo dos medos lá de fora. Do cansaço.
São tantas negociações. São tantos sonhos recolhidos. Tantos desejos contemplados. Tantas frustrações. Crises e encontros. Tantos gestos expostos.
É aqui que eu deixo tudo. É daqui que eu tiro tudo.
Sou Beatriz, sou Bia.
Tenho dois filhos, tenho um marido. Meus amores.
Tenho meu trabalho, tenho minha profissão.
Tenho muitos amigos. Preciosos. Indispensáveis.
Tenho mãe. Tenho irmãos. Tenho sobrinhos. Tenho enteados.
Não tenho pai. Infelizmente.
Moro perto da praia e isso me faz mais feliz. Preciso do mar.
Moro perto da lagoa e isso me faz mais forte. Mais livre. É nela que corro todo dia.
Acordo cedo. Faço exercícios. Leio muito. Amo cinema. Gosto de televisão.
Adoro estar com muita gente. Adoro ficar sozinha.
Sei escutar. Gosto de falar. Adoro perguntar!
Fico quieta por muito tempo. Sou muito distraída. Sou muito observadora.
Preciso de música. Queria viver permanentemente numa roda de música. Mas a letra muitas vezes me consome.
Adoro a minha cidade. Mas também tenho medo. Mas sei que tenho esse lugar no mundo. Por isso essa cor. Esse gosto. Essa língua. Esse cabelo. Por isso vivo entre diferentes. Não podendo ser iguais.
Às vezes me sinto muito velha. Sem tempo.
Às vezes me sinto com todo o tempo do mundo pra mudar tudo. Desfazer. Refazer.
Detesto arrogância, hipocrisia, preconceito. Detesto falsidade. Detesto projetos traçados, sem chance de mudar.
Admiro a gentileza, a liberdade, o voltar atrás. Admiro quem muda de opinião. Admiro quem tem opinião.
Tenho meus ídolos. Já perdi vários. Ganhei novos.
Fui criada pela tropicália. Pelos hippies. Pela vontade de mudar o mundo. Pelo feminismo. Pelo pós-feminismo.
Gosto de uma vida saudável e de uma tarja preta. Gosto da contradição.
Gosto de civilidade.
Gosto de prata. Não gosto de ouro.
Sou estressada, mas pareço super calma. Prefiro chinelo, mas tenho que trabalhar de salto alto.
Sou preguiçosa, mas tenho insônia.
Quero escrever muito, mas não consigo nunca começar.
Mas já consegui falar um bocado de mim...