quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Os meus amigos

Cada um tem um jeito. Cada um tem um tamanho, uma idade, uma voz, uma forma de olhar o mundo. Cada um me dá um apelido, me escuta de uma forma, espera de mim coisas diferentes. Mas todos me dão muitas coisas, tudo o que eu preciso e busco. Todos criam comigo o enredo maravilhoso da minha vida. Me provocam, me implicam, me dão alegria. Essa de que não abro mão pra sobreviver. Para poder dar a gargalhada na hora do silêncio, que é pra ficar mais sonora e desequilibrar o tédio do dia a dia. E juntos, vamos completando as inúmeras piadas criadas no meio dos quinhentos e trinta e sete e-mails trocados ao longo de tanto trabalho. E nos segredos que vamos revelando, porque nossos códigos são criados a todo instante e rapidamente substituídos por outros e outros e outros... Nos conhecemos tanto que sabemos o humor de cada um na primeira palavra escrita ou no olhar na hora em que nos vemos. E largamos as frustrações ou os sonhos de amor nas músicas cantadas nos karaokês ou nos chopes semanais. E quando a dor aumenta muito está todo mundo a postos, pronto pra socorrer e dar abraços apertados, fazer barulhinhos pra arrancar sorrisos, enxugar lágrimas, acolher e acolher. Acolhimento diminui sofrimento. E quando a alegria é grande, ficamos todos juntos pra rir na praia, no bar, nas festas, nos almoços sem fim. E trocamos comentários nos blogs, fazemos cursos juntos pra ganhar diplomas de maneiros. Torcemos pra dar certo quando alguém tem um encontro bacana, para todos serem felizes. Ninguém se cansa de responder a todas as minhas perguntas intermináveis, a aguentar as reclamações de quem está de TPM, ou dos que estão MDC ou QCC [e todas as siglas que vamos inventando para descrever nosso estado de espírito do momento]. E compramos barracas de praia iguais, e mandamos muitos torpedos para combinar qualquer encontro já tão previsível e sabemos que vamos rir e rir e rir... E mesmo os que não estão perto, se fazem presentes o tempo todo. E vamos juntando todos os filhos, os que estão há anos nas nossas vidas, os que chegaram há pouco. E assim, a minha vida se torna cada dia melhor, cada dia mais possível, cada dia mais perto da felicidade. E eu fico repetindo que é tudo por causa de vocês, de vocês, de vocês.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Obrigada Wisnick!*

Uma segunda-feira com promessa de felicidade...
Literatura, poesia, música, violão e gente cantando.
Nosso diploma de maneiro é quente!
*Letícia arrasou!!!

Guimarães Rosa + Caetano + Milton


A terceira margem do rio
Caetano Veloso
Milton Nascimento


Oco de pau que diz:
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira

Água da palavra
Água calada, pura
Água da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai

Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai

Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio riu, ri
O que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi
A voz das águas

Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai

Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eu tenho a força!

Chovia muito na hora de sair de casa. Bom. Água pra me misturar e me levar junto nessa sujeira da rua, com essa amargura da alma, do peito, da noite mal dormida. Um vento esquisito que não esfriava, mas também não era quente. Dia estranho esse. Metrô ou ônibus? Não, nada de dúvidas, nada de incertezas em torno de bobagens cotidianas. E começo um diálogo comigo mesma. [Deixa as dúvidas para coisas mais complicadas. Vai gastar tempo pensando, discutindo internamente metrô ou ônibus??? Vai logo de metrô que assim não pega esse trânsito insuportável e motoristas irritados. Pelo menos de metrô parece que está em uma cidade mais civilizada.] Até descer na Uruguaiana e escutar o camelô gritando “sombrinha a cinco real, é mais barata que benegripe!”. Não tem como não rir, mesmo que esteja péssima e sem a menor vontade de encarar o longo dia. Centro imundo, mas o prédio em que trabalho é bonito. Mas nada dá jeito nessa preguiça, nessa cara triste, nessa falta de vontade de pensar. Ai, pra que tudo isso? Aliás, a única palavra que tenho vontade ficar repetindo é "ai, ai, ai..." E vou largando o ombro, segurando a cabeça com a mão e olhando para a tela do computador como se não tivesse o menor compromisso com nada daquilo. E choro, choro e choro. Sozinha, em silêncio. Não! Não quero ficar com dó de mim! Nunca! Não quero "ai", não quero tanta dor, não quero paralisar. Não posso, não vou. Porque sou forte. Por dentro e por fora. Porque eu vou gritar bem alto, eu não vou chorar e eu não terei medo: "ressuscita-me, para que a partir de hoje, a família se transforme, e o pai seja pelo menos o Universo e a mãe seja no mínimo a Terra, a Terra, a Terra!!!"

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O poeta

Hoje eu escutei o poeta. E o poeta falou bem à beça.
Sim, as palavras, a língua, a música, o poeta.
Ficaria ali mais mil horas. Aprendendo a olhar o mundo com as palavras de um poeta.
Lendo poesia e escutando as músicas com suas letras.
Músicas com poesia e letras.
Músicas feitas para a poesia de um poeta.
E poesias feitas para músicas de outros.
Músicas brasileiras.
De um poeta.
Que eu conheci.
E escutei.

sábado, 19 de setembro de 2009

Eu nem sinto meus pés no chão...

Pablo Picasso - As Meninas

É como percorrer todos os dias o mesmo caminho, sem me dar conta de que as coisas se movem apesar de mim. De repente, resolvo balançar a cabeça e, não, não era assim a minha lembrança do que havia ali tão perto de mim.
É como a brincadeira de criança que a minha mãe fazia com a gente na casa de Correias e eu, de tão pequena, nem compreendia direito. "Quando cheguei na cozinha estava tudo fora do lugar!" E uma correria danada se estabelecia e todos mudavam de lugar, e sempre sobrava um. E dava uma pena enorme desse um que ficava sem ter onde sentar. E ele tinha que tentar sentar de novo na próxima correria.
A sensação hoje é que as coisas estão sempre se movimentando e eu não estou prestando tanta atenção assim pra pegar o lugar. E quando vejo, a bagunça já se estabeleceu. E a confusão que faz dentro e fora de mim é tão grande, que já não sei mais como participar da correria.
Será que consigo? Será que preciso? É preciso?
E o que me resta, é erguer a cabeça para tentar enxergar melhor o que está em cada lugar, para entender melhor o meu lugar. Pra sentar o mais perto possível dos que também andam meio distraídos por aí.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O mundo me condena e ninguém tem pena...



Filosofia
Noel Rosa


O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim

Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo

Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva a hipocrisia

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Palavras do meu lugar

Um novo curso começou hoje.
Sempre tive um certo preconceito com o lugar. Até com o nome. Pretensioso.
É perto da minha casa e sempre me pareceu um daqueles lugares em que as pessoas que não têm o que fazer vão matar o tempo buscando cultura. Saber.
Eu sei que é horrível eu achar isso, mas eu acho.
Mas aprendi com a Carol que a gente deve buscar o nosso gigante interno e não deixar essas coisas ruins tomarem conta da gente.

Aí, ela de novo inventou que o gigante dela era a Lelê. Eu logo quis que fosse o meu também!
Por isso, fomos a três juntas fazer o curso pra ficar mais divertido.
As aulas serão o máximo, só com feras, e giram em torno de um filme lindo, Palavra Encantada.
Hoje assistimos ao filme.
A idéia é a mesma que norteia várias gerações.
O interesse pela poesia, pela palavra escrita a partir da música brasileira.
Foi assim comigo, foi assim com muitos.
Saí mais feliz. Com a alma e o coração lotados de coisas boas.
Palavras. Sons. E um monte de gente que me criou, que fez de mim quem eu sou hoje.
Que me tornou uma apaixonada pela música brasileira e pela literatura. De todas as formas.
Me emocionei em vários momentos. Em outros morri de ri.
Caetano sendo entrevistado no FIC quando cantou Alegria Alegria:
- Por que você falou em Coca-cola, Brigite Bardot, espaçonaves, guerrilhas...?
- Ué, porque pensei em Coca-cola, Bardot, espaçonaves, Cardinale, guerrilhas...
Gil cantando Maracatu Atomico com Chico Science é uma aula de generosidade com modernidade!!! É o máximo!!! Chico Science não podia ter morrido e Gil tem de viver 1.000 anos!
Antonio Cícero recitando a poesia que fez pro pai dele dá vontade de ficar pedindo "repete?" e Arnaldo Antunes tem a voz grave mais linda do mundo... As cenas com Tom Zé são antológicas. Bethânia recitando e falando de Caymmi é de chorar e de agradecer por ela existir há tanto tempo na minha vida.
E o Chico explicando a letra da música dele??? É o Chico, né? É muito bom!
Dá raiva de termos perdido tão cedo o Wally Salomão, dá vontade de ficar horas escutando o Lenine e de correr para lado do Lirinha para escutá-lo recitar com seu sotaque sem igual.
E quem me dera conviver com todos os que aparecem no filme e cantar muitas horas com eles e aproveitar cada sílaba do que têm a dizer pelo resto da minha vida.

A Adriana Calcanhoto conta que encontra muita gente pelo mundo que aprende português por conta da nossa música.
Confesso que fiquei muito orgulhosa. Fico imaginando o quanto as pessoas também se emocionam com tudo isso...
E eu sempre digo que sei que tenho um lugar no mundo. Um lugar de onde eu saio pra conhecer outros lugares, mas é para aqui que quero sempre voltar. E ficar.

O lugar que tem a minha cor, o meu gosto, os meus sons, a minha identidade.
Porque eu nasci neste lugar, que tem esta música, esta poesia, esta palavra, esta língua.
E estas pessoas.

sábado, 12 de setembro de 2009

Samba da Benção



Samba da Bênção
Vinicius de Moraes / Baden Powell

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração


Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não

Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração

Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O livro do meu irmão...

Está sendo lançado na Bienal do livro

Pra minha, pra nossa Letícia

Pelo amor que sinto por você, te conheço há séculos.
Pela confiança, pela cumplicidade, pela admiração... Acho que passei a vida ao seu lado.
Nossas escritas, nossas farras, nossas praias... Tornam nossas vidas inseparáveis.
Sem falar nos nossos karaokês, nos nossos almoços no centro, nos nossos encontros todas as sextas no Antiga, nos nossos 547 e-mails diários com a Carol e com a Simone.
A gente sabe rir um bocado!
E sabe falar muita besteira.
E reinventar a alegria.

E inventar blogs bonitos, pós feministas...
Mas também falamos muita coisa séria, né?
Somos um bocado inteligentes, hahahaha.
Você tem me ensinado muita coisa.
Sua força, sua fragilidade (mesmo que disfarçada), seu apoio incondicional cotidiano, seu sorriso luminoso, seus olhos verdes enormes e lindos, sua presença incansável em todos os meus momentos difíceis... Você me salva, amiga linda!!!
Hoje, no seu aniversário, só posso querer que você continue igualzinha, assim, assim como você é. Maravilhosa!!!
E que continue com essas milhões de pessoas que te amam tanto sempre muito "xuntinhas".
Com tudo o que você faz e ainda tem pra fazer pela frente.
Com a sua liberdade, com a sua felicidade e com a nossa total falta de "loção"!!!
É bom demais!

Milhões de beijos!!!

domingo, 6 de setembro de 2009

O brilho da Olívia...

Eu tenho uma filha. Falo dela desde que nasci.
Porque sempre sonhei em tê-la.
Assim como ela é.
Doce, justa, correta, linda, sábia, discreta, delicada, inteligente, meiga, maravilhosa.
E, dentre tantos, ela tem um talento que eu admiro produndamente... sabe cozinhar!
Meu orgulho por ela não cabe em palavras.
Só no amor imensurável que eu sinto.
Ontem, juntou uma parte dos nossos amigos muuuuuito amados (porque tem de ser aos poucos), para experimentarem as delícias que sabe fazer.
Foi tudo perfeito.
Com o auxílio luxuoso da Clarice pra fazer o convite, da Letícia pra fazer o design do Menu, da Barbara para imprimir, da Vovó Wilma e da Vivi nas tarefas determinadas por ela cozinha, da Deca para fazer um pão delicioso, do Sá na idéia e nos agitos das bebidas, da Clé (de novo!) e do Fabinho no Stop Game para nos divertir, e de todos na torcida, nos carinhos, nos elogios, na participação total e em tanto amor!!!
Obrigada, minha filha.
Obrigada, meus amigos.




quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Carol me mandou...

...pra eu ficar mais feliz!


Alegria
Arnaldo Antunes

Eu vou te dar alegria
Eu vou parar de chorar
Eu vou raiar o novo dia
Eu vou sair do fundo do mar
Eu vou sair da beira do abismo
E dançar e dançar e dançar
A tristeza é uma forma de egoísmo
Eu vou te dar eu vou te dar eu vou

Hoje tem goiabada
Hoje tem marmelada
Hoje tem palhaçada
O circo chegou

Hoje tem batucada
Hoje tem gargalhada
Riso e risada
Do meu amor

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Seus muros

Saiu mais cedo do trabalho. Encontrou a amiga e juntas pegaram o ônibus. Imundo, cheio e fedorento.
Mas conseguiram sentar juntas e foram falando o tempo todo. Da tristeza de uns, da perplexidade de conhecer um pouco mais de perto outros, da ansiedade de resolver a aflição e a tristeza de todos. São importantes.
Depois ela deu tchau para a amiga, saltou, atravessou a rua movimentada, caminhou mais um pouco e tocou a campainha.
A porta, magicamente, abriu.
O lugar, já conhecido, tem algumas plantas e poucas cadeiras. Um cheiro estranho de incenso. Ela não gosta desse cheiro. Ela não gosta de cheiros.
Esperou um pouco. Mais um pouco. A outra porta abriu. Sentou e começou a falar. A escutar.
Era uma conversa. Tensa. Uma conversa tensa.
Saiu de lá mais triste do que entrou.
Às vezes as conversas são assim.
Aí a cabeça fica lotada de dúvidas. A cabeça quase sempre fica assim.
Andou de novo pensando mais e mais.
Pegou de novo um outro ônibus. Imundo, cheio e fedorento.
Um bebê sorria. Se o ônibus parava o bebê chorava.
Ela sentia vontade de chorar junto com o bebê.
Chegou, saltou, andou mais um pouco.
Viu as duas amigas andando ao seu encontro.
A que deu tchau para ela no primeiro ônibus e a outra com quem trocou e-mails o dia todo.
Se abraçaram.
Andaram juntas.
Sentaram, comeram um cone, conversaram, falaram de dor e de amor.
Pagaram a conta e saíram andando outra vez.
Falaram um pouco mais.
Se despediram.
Ela saiu andando um pouco mais.
Cheia de dúvidas.
E a certeza daqueles dois pilares em sua vida.