quarta-feira, 27 de abril de 2011

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Nada me é estranho. Nada. Nem o pedido, nem a dor. Nada. Mas a impotência é. A paralisia absoluta é. E me joga em um abismo todas as manhãs desesperador. Aí eu tento traçar um plano para o dia. Saídas. Buscas. As horas passam. Nenhuma mudança à vista. Passos lentos. Algumas lágrimas. E eu ali. Não se trata de ideias novas. Não se trata de palavras mágicas. De discursos milagrosos. Quem dera! Um cigarro. Mais um. Ansiedade absoluta. Concentração alguma. O meu sono foi embora. Minha fome. Minha força. Mas duas coisas permanecem ao meu lado e dentro de mim. Fiéis. Crescentes. Inabaláveis. As pessoas. E o amor delas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Encontros

Quente, muito quente. Era assim que estava aquela manhã. Um sol que iria aparecer, mas ainda não havia saído. Ipanema, Aterro do Flamengo, Santos Dumont. Um aperto. Sábado é o dia que mais gosto na minha cidade. Uma vontade de ficar, mas sei que deveria ir. E fui. São Paulo e calor são situações estranhas. Embora eu as conheça bem. O evento que me levou durou metade do dia. O vinho me deixou falante. Ao anoitecer a casa do meu amigo me esperava. No caminho para lá penso em como tenho amigos. Em todos os lugares. Sorrio. E, mais uma vez, penso que é esse acolhimento que eles me dão que me salva. De tudo. O efeito do vinho vai embora, mais um tempo e minha amiga liga. Caminho até sua casa e a lua cheia está mais do que linda. A conversa mais do que boa. No restaurante japonês falamos dos filmes da nossa vida. São tantos. Fui dormir pensando em Paris Texas.
Quente, quente demais. Era assim que estava aquela manhã. Uma vontade louca de fugir dali. Minha amiga ligou e fomos tomar café da manhã em uma daquelas padarias paulistanas bacanas. Cheia e gostosa. Depois vamos ao Parque do Ibirapuera ver algumas exposições. Brasilidades. Cultura popular. Emoção. Mais conversas, fotos, amo muito tudo isso. É só o que consigo pensar. Combinamos de descer o Velho Chico. Sonho antigo. Lembro que conheço bastante o meu país. Mas quero conhecer muito mais. Vamos para o Mercado e mais encontros, mais amigos. Almoço. Quando vejo aquela mesa, lembro de 'tudo junto e misturado'. Me emociono mais uma vez. Saímos de lá andando. A cidade está lotada, Virada Cultural. Paramos pra comer um doce. É a última parada com eles. Hora de voltar.
Quente, quente e linda. Era assim a noite no Rio quando cheguei. A Lagoa, Ipanema me esperava, minha casa. Meus filhos, meus objetos, meus cantos. Uma sensação boa de chegar. De pertencimento, enfim. Cansada, mas sem conseguir me desligar de tudo o que vi, conversei, dos encontros. Fui dormir pensando nos abraços dos meus amigos.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Saudade de Clarice

A noite está quente e eu caminho em direção à Lagoa. Linda. O movimento de sempre. Todos se exercitam. Muitos carros. E eu sinto falta do suor da minha corrida. Mas meu destino é o Caiçaras. De longe vejo a Clé. Acho engraçado que a gente sabe que está com saudade, mas a dimensão exata a gente tem quando vê a pessoa. Dá um aperto e percebe que falta danada estava sentindo daquela presença. Daquela conversa. Daquela distração que é dela e que é minha também [coleciono as melhores histórias do mundo sobre isso!]. Estava sentindo saudade das nossas brincadeiras. Dos nossos códigos que só nós entendemos. Das desculpas mútuas. E dos acessos de gargalhadas. Do nada. Por nada. Bobices. Sempre foi assim. Sempre será assim. E a conversa vem, fica, não termina. Não terminará jamais. Porque o amor é imensurável. Pra sempre. E quando nos despedimos e saio andando pra casa, a saudade permanece. Mas percebo que volta uma alegria, que só ela é capaz de imprimir em mim. Vontade de voltar ao tempo em que nos víamos cotidianamente.

sábado, 9 de abril de 2011

Ciclo básico

No caminho para o trabalho, aflita, muito aflita, tento alguma resposta pelo telefone. Ela não vem, mais uma vez. A noite mal dormida deixa a cabeça atordoada. O choro engolido saiu ainda na cama, ao tentar levantar. Mas com o passar das horas ele não para. Não tem jeito. Sai sozinho. Está além de mim. Fora de mim. Peço desculpas. E continuo assim. Me olho no espelho e levo um susto. Não me reconheço mais. Meus olhos estão horríveis. Fico alguns minutos olhando a água nas minhas mãos, buscando alguma força para elas. Não estarão nas minhas mãos a possibilidade de mudar nada. Nada. Infelizmente. Como se eu pudesse cavar, cavar, cavar... Não posso. Não existe terra pra buscar alguma coisa. Não existe busca. Ando lentamente. Se eu pudesse correr e chegar mais rápido! Não. Já corri tanto, tentando buscar algum ar a mais. Não resolveu. Minhas pernas estão finas. Meu corpo magro. Não é com meu corpo mais forte que conseguirei transformar tudo isso. Já está provado também. Quanto mais peso eu puxo, menos força eu tenho pra transformar esse estado de coisas instalado a minha frente. Por que eu não consigo? Tento tanto empurrar isso tudo pra bem longe daqui! Faço tudo o que posso! Até minha voz anda baixa. Ninguém anda me escutando direito. Aí eu canto. Tenho cantado. Então, de novo o aperto no peito. Muito. Tento a gargalhada. Mas ela está cada vez mais rara. E quase em desespero eu tento dormir. Sem sonhar. Porque ele não existe mais. Há muito tempo que desistiu de mim. Tristeza profunda.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Noite

A frase não sai da minha cabeça, respira, tem de respirar, todo dia, todo dia. A noite volta e meia é cortada. Por algum susto. Alguma dor. Real. E o pensamento custa a entrar em sintonia. Ou melhor, custaria. Mas vai no tranco. Tem de respirar. Mesmo com todo o aperto bem aqui. Com toda confusão mental em que me sinto. Perturbação absoluta. Por que tem de ser assim? Nada disso estava em tudo o que inventei. Em tudo o que fiz. Em todos os retalhos que costurei pra que a colcha fosse enorme, e quente, e macia, e protetora, e colorida, e que tivesse espaço para todos os outros pedaços que viessem ao longo do tempo. Que fosse sem fim... E eu lembro que tenho de respirar. Todo dia. Todo dia.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Amiga[íssima]

O dia era apenas mais um. Normal. Várias janelas abertas no computador. Além de muito trabalho. Comum. A rede social fica ali. Gosto disso. É uma forma alegre de me manter ligada aos meus amigos. Aos meus filhos. Àqueles que estão longe. Mas perto. Mais perto. De vez em quando uma sugestão. Algumas bacanas. Outras ignoro. Veio uma especial. Nem acreditei. Li de novo. Claudia Zurli. Mais Bravo. Não é possível?! Tão longe. No tempo. Na história. Mas volta e meia ela vinha na minha lembrança. Sempre linda, eu lembro bem. Que engendrava uma nova saudade, uma outra pessoa, um outro tempo.  E agora ela estava ali. Possível, alcançável, acessível. E mais. Passou a ser também definitiva. Imprescindível. Mais feliz impossível.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Vou!

A sensação é a mesma sempre. Tudo é possível. No início muita empolgação. Como fico feliz! Rio demais. Brinco demais. Faço declarações demais. Tudo é demais. Depois, não tem jeito. A dor volta com força demais. Mas acabei de me olhar no espelho e vi que dá pra disfarçar. Vou começar tudo outra vez.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

[des]Caminho

Angústia e dúvida. O dia todo assim. Desacertos fáceis pra mim. Quase surto. Tento prestar atenção ao homem que fala sem parar dirigindo o carro. Irritação é o que ele consegue me provocar. Não, para por favor. Quase desço. Insisto e me distraio olhando as vitrines lotadas de artigos baratos. Por que eu nunca me lembro de fazer compras aqui? Muito longe da minha casa, concluo rápido. Está lindo o dia. E eu aqui, nessa aflição medonha. E ele não cala a boca. Traço planos, mil planos pra me consolar, pra fugir do aperto no peito. Para de drama, brigo comigo mesma. Não tenho a menor vocação pra isso. Por que esse cara escolheu essa rua tão engarrafada? E ele não cala! E o meu peito continua apertando. E as ruas ficam cada vez mais feias. Respiro fundo e sei que é só angústia. E que vai passar.