quarta-feira, 30 de junho de 2010

(des)Amor*

Não à toa aquele velho amor voltou a atormentá-la. Ou melhor, voltou a rondar sua cabeça, a persegui-la nas ruas, quando vê seu rosto em todas as pessoas. Seu amor nunca foi embora. Nem com todas as palavras duras, com todos os telefones desligados, os e-mails não respondidos, nem assim ela deixou de amá-lo. Um só dia. Nem assim. Uma mágoa gigante foi crescendo, uma dor profunda se acumulou no peito, mas o amor se recusou a ir. Simplesmente ir. E volta e meia ele está ali. Talvez pela força do início, pela cumplicidade, pelos corpos que não desgrudavam, pelas brincadeiras que só os dois entendiam... Só assim. Mas ninguém ama sozinha a vida toda. Em algum momento desse longo caminho esse elo será perdido. Saudavelmente desfeito. Para que ela se reencontre inteira. Aí sim.

*Escrito para o Comando Rosa http://comando-rosa.blogspot.com/

domingo, 27 de junho de 2010

Impedimento


Estou em um estado intranstornado de lentidão. A cabeça dói. De manhã, de tarde, de noite. Desafia a madrugada. O frio não me deixa levantar tão rápido, mas levanto. Uma vez. Tomo o remédio. Não adianta. Segunda vez. A ação é mais forte. Chega o domingo. Refaço todas as vésperas na tentativa de achar o erro. O deslize que cometi para que me transformasse em tormento vivo. Permanente. Não encontro. Desafio o torpor. Não esmoreço, continuo. Até que não suporto mais. Durmo de biquíni na sala. Não sonhei, desmaiei.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Literatura e solidão

A literatura é essencialmente solidão. Escreve-se em solidão, lê-se em solidão e, apesar de tudo, o ato de leitura permite uma comunicação entre dois seres humanos.
Paul Auster

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tentativa

Fico aqui observando as pessoas. Elas se movem muito. E eu parada. Ouço o que elas dizem. Algumas discutem. Algumas narram o que fazem, como um narrador de um filme. E cada ação engendra em mim uma palavra. Cada palavra uma aflição. Cada aflição uma nova percepção. Nada me distrai. Uma confusão exaustiva. Cheia de mudanças, associações, gestos. Pausa. Penso em escutar uma música. Não. Vai me atordoar mais. Fixo o olhar em uma pessoa falando ao telefone. Ela sorri. Elaboro o que ocorre nas lacunas entre as palavras. Busco desenredar o carretel daquela ligação. Parece tudo tão perfeito. Pausa. Distraí de mim.

Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
Saramago

*Presente da minha amiga Eleonora.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Eu adoro Copa do Mundo!!!

Antes eu media se uma pessoa era muito nova ou não considerando se ela tinha assistido a Copa de 70. Não assistiu? Ah! É muito nova!

Bom, isso, realmente, faz muito tempo. A verdade é que eu não só assisti ao nosso tricampeonato, como posso afirmar que foi maravilhoso!!! Ali eu aprendi o que é uma Copa do Mundo, entendi o que é um jogo de futebol. Não aprendi nada sobre as regras, claro, mas entendi muito além disso. E fui compreendendo cada dia mais ao longo da vida. E acho que pela primeira vez tive orgulho da minha brasilidade. [Era criança e não fazia a ligação de que o governo manipulava grosseiramente o futebol para esconder a ditadura].

Logo que terminou a Copa, viajei com meus pais e meus irmãos para a Argentina de férias. E lembro como ficava feliz de falar que era brasileira. Logo para nossos hermanos! De lá pra cá, a cada Copa, não adianta: é uma alegria que toma conta de mim, que não tem jeito. Lembro muito das primeiras Copas com os meus filhos. Da torcida deles. Da emoção deles em 94, esperando os jogadores passarem na rua com a taça. Porque futebol pra gente é isso... É alegria, é ajuntamento, é pertencimento, é bola no pé desde que nasce, é ter time desde sempre, é um campo em qualquer cantinho do país, é TV ligada em cada esquina, é um monte de gente lendo jornal na banca segunda de manhã, é discussão acalorada...

Na Copa, tá todo mundo junto! Mesmo que o Dunga seja rigoroso demais, que a gente sinta muita falta de alguns que não foram convocados, que ainda não conheçamos todos que estão em campo, na hora de juntar os amigos, com os homens reclamando que as mulheres falam muita besteira [o que eu discordo totalmente!!!], quando o grito de GOL sai lá do fundo da garganta... É bom demais!!! A gente tem certeza que o Brasil inteiro está gritando junto!!! E, cá pra nós, pensar no povo inteiro unido, todas as cores, classes sociais, ideologias e regiões deste país imenso, é bacana pra caramba, né?

domingo, 13 de junho de 2010

É muita água

Ando chorando demais. Preciso secar esse chororô...



Chororô
Gilberto Gil

Tenho pena de quem chora
De quem chora tenho dó
Quando o choro de quem chora
Não é choro, é chororô

Quando uma pessoa chora seu choro baixinho
De lágrima a correr pelo cantinho do olhar
Não se pode duvidar
Da razão daquela dor
Não se pode atrapalhar
Sentindo seja o que for

Mas quando a pessoa chora o choro em desatino
Batendo pino como quem vai se arrebentar
Aí, penso que é melhor
Ajudar aquela dor
A encontrar o seu lugar
No meio do chororô

Chororô, chororô, chororô
É muita água, é magoa, é jeito bobo de chorar
Chororô, chororô, chororô
É mágoa, é muita água, a gente pode se afogar

Chororô, chororô, chororô
É muita água, é magoa, é jeito bobo de chorar
Chororô, chororô, chororô
É mágoa, é muita água, a gente pode se acabar

terça-feira, 8 de junho de 2010

Língua


"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros."
Caio Fernando Abreu
 
Museu da língua portuguesa. São Paulo. Menas. O certo do errado, o errado do certo. Um nó na garganta. As pessoas brincando com as palavras, a nossa língua, a nossa identidade... Orgulho e frustração. Queria passar a vida escrevendo. Certo ou errado, mas escrevendo. Tirar do corpo, através da escrita, o que ficou dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros. Cotidianamente. Pra dar alívio. Pra inventar palavras novas. Criar outros sentimentos. Esvaziar a cabeça. Desatormentar o peito. Queria as letras só pra mim. A serviço do meu humor, do meu amor, do meu cansaço. Pra me acalmar. Só eu julgando, certo ou errado. Mas não posso. E tenho de me contentar em dizer pra mim mesma... menas Bia.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

R|E

'Eu sou enjoadiiiinha'. 'Só vou de taxi'. 'Vou dormir até meio dia!'.
Quem é essa?
Podem esquecer. Ficou lá atrás...
Agora, só ficou a Regina Exchange. Em transformação... E mais o caminhão de adjetivos e qualidades que a gente sempre conheceu e reconheceu. É verdade! Viajamos juntos nesse feriado. Quatro dias em São Paulo, com uma programação intensa de museus, restaurantes e amigos queridos. Um frio bacana e uma vontade danada de caminhar por aquelas ruas, olhar para aqueles prédios, conversar muito. E, claro, tomar café até as 10h. Já havia me conformado em fazer hora perto do hotel até as 13h... Mas a lindona estava lá. Ééééé!!! Antes das 10h ela estava conosco tomando café da manhã com o maior sorrisão!!!
- Reginita, você vai aguentar?
- Ai, gente, e depois ainda andar no museu?
Bom, a ideia era negociar. Mas minha amiga andou por todas as ruas, o museu inteiro e não reclamou um segundo!!! E foi assim TODOS OS DIAS!!! Andamos a pé praticamente por toda São Paulo. Reginita acordou cedo todas as manhãs. E olha que dormimos de madrugada todas as noites!
Não vi a enjoadinha um segundo. Essa não foi conosco. Não mesmo!
Ela diz que está mudando muito. Eu, sinceramente, acho que não é bem uma mudança. Ela está jogando fora algumas manias. Porque, cá entre nós, quem quer que a Regina mude de verdade? Como podemos perder aquela gargalhada, aquele sorrisão e ficar com risinhos contidos? Como ficaremos sem o exagero em tudo, daquele coração maior que o mundo, da generosidade que protege a todos nós?
Ai, queridona, muda sim! Em tudo o que te fizer bem e mais feliz. Prometo que vou correr muito pra te pegar. Mas não deixe de ir a nossa praia, de me escutar, de me dizer coisas lindas e de fazer fofoca comigo, tá?