segunda-feira, 21 de junho de 2010

Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
Saramago

*Presente da minha amiga Eleonora.

4 comentários:

Grasi disse...

Saramago... já fazendo falata, né?!
Bjão :)

Anônimo disse...

Vamos ter que nos contentar com o que nos foi deixado. Teremos que desenvolver/aperfeiçoar o prazer, cada vez mais, de ler e reler, já que não existirão novos escritos.
Très triste!

Anônimo disse...

Vamos ter que nos contentar com o que nos foi deixado. Teremos que desenvolver/aperfeiçoar o prazer, cada vez mais, de ler e reler, já que não existirão novos escritos.
Très triste!

Sá disse...

Esse texto é único e o pensamento raro.
Esse homem brilhante e sensivel, nos deixou menores, mais desamparados.

Quanto a voce Bia:

"Eu olho o que tu olhas,
...
...
Sou a criatura do que vês!"
a partir de Octavio Paz.