quinta-feira, 6 de maio de 2010

A que será que se destina?

Existimos. Não conhecia Teresina. Meu trabalho me levou até lá. Na verdade, ainda peguei um carro e viajei uma hora até Caxias, uma cidade pequena, no Maranhão. Fui avaliar, pelo MEC, o trabalho de um Pólo de uma Universidade Aberta do Brasil. Um lugar longe, muito longe daqui deste Sudeste onde vivo. Um lugar onde tem uma rua chamada Rua do Sol, porque não tem uma única hora do dia em que o sol não esteja a pino. Só quando chega a lua. Lá, os dias são sempre muito quentes. As casas são todas muito simples. As pessoas muito sorridentes. E lá, não tem jeito, a gente tem certeza de que o Brasil é muito pobre.
A coordenadora do Pólo é uma maranhense porreta. Estudiosa, batalhadora, dá conta de tudo e transforma o pouco que tem em conhecimento para muitos. Fala sem parar no trabalho, com o orgulho de quem sabe que está fazendo alguma coisa muito importante. Muito! Mostra todos os cantos, apresenta todas as pessoas. E sonha. Como sonha. E fico pensando que eu quero me contaminar muito com esse sonho. E o quanto eu desconheço, de fato, da realidade dessas pessoas. Depois de muito tempo no Pólo, vamos almoçar com a Secretária de Educação. Empolgadíssima com a cidade e com tudo o que faz, me leva para conhecer um monte de escolas, professores e crianças. No caminho comento com ela que quando estive no Pará vi muitas motos e que no Piauí e no Maranhão não é diferente, estava impressionada.
- Ué, você não sabe? Aqui não se toca gado mais no berro. Só se toca de moto, minha senhora!
Não tem como não cair na gargalhada!
Nas escolas escuto também um monte de histórias tristes e impressionantes. Fome, pobreza, dificuldades sem fim... Mas uma vontade danada de se fazer alguma coisa.
- Se tiver um aluno a gente abre a turma. Porque é uma vida que a gente está salvando.
O carro da secretária é um Corsa velhinho e nós andamos nele durante horas, falando sem parar. Rimos muito, suamos muito e falamos o quanto o Brasil está mudando. Elas queriam que eu ficasse lá vários dias. Tinham planos para eu fazer várias coisas. E eu adoraria ficar um tempo por lá e fazer todas as coisas importantes que elas fazem. Queria conversar com aquelas pessoas todas. Queria entender como é possível ter tanta vontade para estudar em situações tão adversas. Como é possível viver sob aquele sol escaldante? Como, por exemplo, a senhora que trabalha o dia inteiro na secretaria, chega em casa à noite e faz comida, tem um único computador, espera os três filhos acabarem os trabalhos da escola irem dormir, para sentar à meia-noite e fazer o curso a distância até de madrugada, dormir 3h por noite e acordar para começar tudo outra vez? Como assim? E aí eu olho pra mim e me pergunto por que mesmo que eu estou ali?
Viajo uma hora de volta ao hotel e encontro um e-mail maravilhoso da coordenadora me chamando de querida e dizendo que ela e a secretária já se sentem minhas amigas. É claro que fiquei feliz, emocionada e certa de que ainda tenho muita coisa pra aprender nesta vida. E que quero voltar muitas vezes ao Piauí, ao Maranhão e viajar muito por esse meu país. E conversar com todas as pessoas que eu encontrar. E virar querida, amiga, pertencer.
E saio a procura da Cajuína cristalina em Teresina.

3 comentários:

Aureliano Mailer da Silva disse...

Ó Xente!
Mas num é qui tô reconhecendo, a bixinha!
Tu tava era há 8 ou 12 anos, juntinho com uma caravana de um partidu qui ajudô, a elêgê, o meu presidenti. O primeiro presidenti brasilero diverdade queu cunheço.

Letícia disse...

"- Ué, você não sabe? Aqui não se toca gado mais no berro. Só se toca de moto, minha senhora!"

Eles, sim, trabalham com Educação...

Maravilhosa a sua experiência. Adorei!

Beijos.

Anônimo disse...

Bia,
Nosso país é uma coisa rara e rica. Tem um povo fora de série, que apesar das dificuldades, luta, sonha, acredita e sorri.
Adorei!
Bjs.