sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Vai

Tudo o que é feito de um jeito discreto, silencioso, sempre me seduziu. O sorriso de canto, as palavras ditas em tom baixo, o olhar de lado. Tudo isso eu adoro. Mas quando entre a fresta da porta percebo o choro abafado, das lágrimas que correm asiladas, em transparência oculta, com som afogado e melancólico, é como um esmagamento da minha alma, do meu corpo magro e curvo, exausto de tanta dor. Essa discrição eu não suporto. Preferiria que fosse alto e que eu pudesse, permanentemente, socorrer. Agarrar, arrancar, puxar e dizer: vai! E não volte nunca mais. Que linha é essa que embaralha aí dentro e que eu não consigo achar a ponta e te livrar dela? Silenciosa. Dilacerante. Vai e não pare mais em lugar nenhum. Em coração algum. Mas antes disso, me deixe achar a sua ponta, para que eu escute diariamente a gargalhada barulhenta, de uma juventude em paz.

4 comentários:

Ana Paula disse...

Bia, sempre me impressiona sua habilidade pra transformar a dor em poesia. É comovente a estética que o seu olhar cria pro sofrimento. Mas isso só é possível porque é um o olhar de quem ama. E ama muito!
Queridona, sei bem o quanto é ruim ver sofrer a quem amamos, mas tenha fé de que essa paz que você deseja é possível. Talvez não o tempo todo, mas um montão de vezes durante o tempo todo.

Tudo vai dar pé!

Muitos beijos!

Sá disse...

Bia,

Meu amor, fora a dor a que o texto remete, fica nesse blog mais um maravilhoso texto tão bom quanto o que descrevia voce voaaannndddooo na escada rolante, quanto o do vendedor de JUJUBA que voce uniu ao texto da aeromoça e tantos outros. Na alegria ou na tristeza voce é uma grande escritora.
No caso.... eu já sabia.

Bjs

Letícia disse...

O texto? Poesia pura!

A dor? Fora daqui!

Reynaldo disse...

Nossa, como você consegue fazer da dor uma linda poesia. Você realmente é uma grande escritora. Só os grandes escritores tem o poder de transforma a dor em beleza.
A paz vai chegar e o sorriso vai permanecer sempre.
Beijos