domingo, 4 de outubro de 2009

Mercedes Sosa

Eu acabava de fazer 17 anos, quando chegou aqui uma cantora argentina, que morava na França, exilada da ditadura no seu país. Os tempos aqui também eram sombrios. Eu não sabia muita coisa sobre ela. Meus pais [ainda bem!] sabiam e nos levaram ao show que fez no Rio, no Teatro João Caetano. Estava lotado! E foi maravilhoso. Conheci ali, grande parte das músicas que mais cantei nos anos seguintes e a poeta chilena Violeta Parra. As duas me arrebataram para sempre. Pelas palavras e pela história. Mercedes Sosa tinha a cara larga, os cabelos lisos, a voz forte. E em determinado momento chegava na beira do palco e cantava:

(...)Todas las voces todas,
todas las manos todas,
toda la sangre puede
ser canción en el viento;

canta conmigo canta,
hermano americano,
libera tu esperanza
con un grito en la voz.

Senti uma vontade de subir no palco e cantar junto, muito alto e sair pelas ruas. Ver a América Latina unida para sempre, derrubar todos os ditadores e mudar o mundo! Neste mesmo show, Sergio Ricardo também tocou seu violão e todo mundo cantou baixinho com ele.

(...)Do que eu queria explicar,
Cala a boca moço,
Cala o peito,
cala o beiço,
Calabouço,
calabouço.

Olha o vazio nas almas,
Olha um brasileiro de alma vazia.

Aí, eu chorei.
Três anos depois ela voltou para dois shows no Maracanãzinho. Fui aos dois enlouquecida! Foram lindos. E de tanto escutar seus discos, cantei todas as músicas. Muito, muito, muito!
Há uns oito anos atrás fui assisti-la no Scala. Ela estava muito, muito gorda. O show não estava cheio e a sensação que me deu é que aquela era a última vez que estava vendo Mercedes Sosa. Senti uma tristeza enorme. Eu havia envelhecido, ela também e muitas coisas haviam se perdido. Ali, eu desejei muito voltar aos 17...

3 comentários:

Loy disse...

que sorte a sua,tê-la visto por três vezes, mesmo que na última a sensação que tenha tido seja a de uma saudade, saudade talvez já prevendo o fim.
há que se lembrar: cambia, todo cambia.

e na vida - ao menos nesta - a morte é a mudança máxima.

Gracias a la vida, que me ha dado tanto: deu-nos mercedes sosa, por 74 anos...

Lady Shady disse...

Não tenho saudades dos meus 17 não...hehe

Antonio Carlos Sá disse...

Latinoamericanidad!
Portunhol!
Hay hombres que luchan...
E tantas cositas mas...
Poemas uruguaios, chilenos, mexicanos.
Vinhos argentinos e tango.

"Soy latino americano e nunca me engano, nunca me engano"

Volver a los "dezesiete",
Después de vivir un siglo...
Vivir a los "cincuenta e siete"
Ao lado de una mujer...
Que canta Mercedes Sosa...
Con tanta fuerza e emoción!
Que tiene tantos hermanos
E vive com tanta luz...
E como me siento , joôôô
Mirando-la sien paraaaarrrrr!!!