sexta-feira, 3 de abril de 2009

Eu podia estar vendendo xuxuba ou falando inglês em um avião...

Quarta-feira. Acordo às 5h50 e vou malhar. Corro 8km, porque preciso me preparar para a corrida de domingo com a galera da FGV.
Vou para o trabalho e chego antes das 9h. Saio 20h. Detalhe... Chovia bastante.
Da porta da FGV vejo o 415 chegando no ponto. A louca do 15 (eu!) sai correndo pra conseguir pegá-lo. O sinal fechou e rapidamente eu penso: "ufa! vou conseguir!"
Grande engano. O motorista nem olha pra minha cara. Ô raiva!!!
Quem são as pessoas que treinam esses caras? Será que ele não sabe que pra alguém sair correndo assim, àquela hora, com as ruas do centro vazias... Precisa e tem direito de ir para casa? Custa abrir a porta?
Espero mais um tanto. Vejo no sinal da Presidente Vargas outro 415. Pronto, agora eu vou...
Cacete! Ele passou correndo e ainda piscou o farol pra mim!!!
Gente, os motoristas dessa linha resolveram me boicotar???
Mais 15 minutos e vem outro. Coração dispara. Ele para. Entro dando boa noite e falo logo: "ai, moço, que bom que o senhor parou..."
Ele me olha com uma cara de quem não entendeu nada.
E, como sempre, começo a viajar nos meus pensamentos...
De repente, me conecto com a realidade a minha volta.
- Xuxuba é 30, 4 é 1 real. Xuxuba é 30, 4 é 1 real. Xuxuba é 30, 4 é 1 real...
É um senhor, todo molhado de chuva, de chinelo, cabeça branca, carregando um monte de sacos de jujubas pendurados em arames. O ônibus está vazio e ninguém compra.
Fico pensando que, afinal, nem é tão ruim assim precisar do 415, sair tarde do trabalho... Eu podia estar vendendo xuxuba no ônibus e pegando chuva pra sobreviver.
O velhinho senta no banco lá na frente. Ninguém mais entra, mas ainda assim de vez em quando ele levanta e começa com xuxuba é 30, 4 é 1 real.
Quando chegamos no Corte, ele levanta, pega um guarda chuva grandão (pra que se não tem como abrir?) e pendura na camisa atrás, pega os sacos e fica em pé. E aí começa a falar com o motorista:
- Aí, voxe precisava ter me vixto sexta-feira na Lapa. Eu e um camelô com uma loura, com os cabelos pintados mexmo, classe média, me querendo muito. Cerfexa, eu, o camelô e a loura. Corpão. Classe média. Acho até que é professora. Loura pintada. Classe média. Me querendo...
O motorista começa a rir, o cobrador, os poucos passageiros se entreolham e ele contando sua sexta-feira na Lapa.
Converso comigo mesma... Caraca! É homem, né? O sujeito tá todo ferrado aqui, não vendeu nenhuma xuxuba, estão rindo dele, mas tem que contar uma vantagem com mulher.
Ainda bem que estava quase chegando em casa.
Dia seguinte tudo de novo... Só que em vez do 15, pego a Gol. São Paulo. Eu mereço...
Aí, as pessoas estão mais arrumadas, as aeromoças usam umas luvas brancas sem mão (não entendo o que é isso... Quem inventou que isso é bonito, gente?), os homens educados, torço muito para o piloto saber que não pode sair que nem um louco por aí e lá vamos nós.
Começo a viajar nos meus pensamentos outra vez. De repente, ouço aquela voz de sempre, com as mesmas explicações de sempre (e se o avião cair eu não vou saber o que fazer, porque nunca prestei atenção). Ai, é muito chato.
E quando começam com o inglês... É de doer! Porque colocam uma pessoa que não sabe falar inglês, para falar publicamente em inglês? Quem treina essas pessoas, gente?
Só que no lugar do velhinho vendendo xuxuba, vem um casalzinho oferecendo um biscoitinho que certamente foi 1 a 30 e 4 a 1 real...
Ai, ai.

7 comentários:

Lady Shady disse...

Adoreeeeeeei esse texto, Bia!
hahaha!
Muito engraçada vc contando as coisas!
A louca do 15!!!!!
E vc é ruim, nem comprou a "xuxuba" do homem - gente, "loura classe média" é excelente!!!
E olha só, fala mal não dos comissários de vôo que a Lôca aqui que vos fala é comissária formada, sabia?!!
Hahaha!
Pois é, Atriz + Garota Polishop + Aeromoça!
E eu tb sou classe média "que nem" a "lôra"...

bjs, bjs!!!
saudades!

Simone

Letícia disse...

Bia, hilário! Morri de rir com as aventuras (ou desventuras?) da louca do 15!!!

Escreve mais!

Beijos.

Sá disse...

Minha Biazinha,

Eu ainda vou viver de renda. Sua.
Voce vai ser escritora consagrada.
Vai nos fazer morrer de rir e só não vai saber o que fazer quando der problema no avião. Hilário.

Bjs

Alyne disse...

Adorei, Bia!!!
Vc vai correr??!! Eu vou estar lá, só q na torcida. O Peeter tb vai correr (detalhe, ele nem treinou... rs).

Gostei da comparação entre as viagens e da aventura na Pres. Vargas.

Saudades.

bjs,
Alyne

Regina disse...

Queridona,

você é minha ídola só por acordar às 5h50 pra malhar e depois trabalhar !!!!!!!!!!!!!!!!!!
Amei o texto.

Beijos.

Reynaldo disse...

MARAVILHOSO!!!!!!!!!!!!!!
Adorei o texto. Me acabei de rir.
Como estou sempre dentro de um avião, vivo me perguntando se na hora do desespero vou lembrar de alguma coisa. A parte do pouso na água é uma das melhores, pense se vou lembrar de levar comigo o assento. O avião afundando e eu arrancando o assento.
Concordo plenamente com aquela luva ridícula da GOL, não sei quem desenhou e resolveu achar bonito...
Quanto ao 415, essa parte quero esquecer, sofri muito nesse coisa, mas o vendedor de XUXUBA devia ser apresentado ao Falabella.
Beijos

Carol disse...

xuxuba. --> não era a clé tentando fazer uma graça?

ônibus não param. mesmo.

a gol é cafona, bia. Muito cafona.

eu sempre presto atenção nas instruções do avião, mas, se cair, eu já sei que minha cabeça não encosta no joelho porque os aviões hoje são apertados em demasia: a sua cabeça bate no banco da frente. e aquele aviso em inglês é só pra constar, acredito eu.

ambulantes no avião??????? a gol não cansa de me surpreeneder...