segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A festa

1980. Eu estudava História no IFCS.
Centro Acadêmico com uma dívida grande. Precisávamos arrecadar uma grana.
Resolvemos dar uma festa paga.
Morava com os meus pais em uma apartamento enorme, com 5 quartos. Um verdadeiro latifúndio.
Melhor lugar não havia.
Espalhamos cartazes pela UFRJ inteira.
Meu pai estava viajando, chegaria no sábado e sexta-feira era o dia perfeito.
Era um apartamento por andar e colocamos uma "banquinha" na saída do elevador.
A festa começou e cada um que chegava pagava para entrar.
Começou a encher, a encher e em pouco tempo já havia mais de 200 pessoas.
O som estava alto e as pessoas foram se espalhando pela casa toda.
Minha mãe ficou no quarto dela que era no fim de um corredor imenso.
Os casais foram se formando e, com a liberdade da época, não havia nenhum limite.
Para nada.
Começou a rolar de tudo!
Lá pelas tantas, meu pai chegou de surpresa.
Já na portaria do prédio, escutou o som alto e perguntou para o porteiro:
- Tem festa no prédio?
- Tem sim e é na sua casa...
- Na minha casa?
- É, e os vizinhos não param de reclamar...
Resignado, com os filhos adolescentes, subiu.
Abriu a porta do elevador e deu de cara com a banquinha.
- Boa noite, sou o dono da casa.
- Tudo bem, mas tem de pagar para entrar!
- Mas eu sou o DONO da casa!
- E daí? Aí é que tem de pagar mesmo! O senhor é mais rico do que todo mundo aqui, ué!
- Tá bom, então. Aqui está...
E meu pai pagou para entrar em casa!
Olhou aquela gente toda, aquela música altíssima e se escondeu no quarto com a minha mãe.
Lá ficaram e dormiram.
Chegou mais gente e mais coisas rolaram. A festa estava animadíssima.
Só que estava animada demais.
Um começou a passar mal e tirou a moça que trabalhava lá da cama dela e se deitou.
O outro ficou maluco demais e começou a gritar todos os plavrões que conhecia na janela da área de serviço.
Os vizinhos, chiquérrimos, estavam desesperados!
Os casais com as mais diversas composições resolveram que os corredores e os quartos estavam liberadíssimos.
Todos acharam que o dia do "liberalize" já tinha chegado lá em casa.
Não se enxergava um palmo adiante.
Mas tudo teria terminado em poucas horas, se um casal mais atrevido, não tivesse resolvido entrar no quarto dos meus pais, tomado banho no banheiro deles, se enxugado com a tolha deles e, ao sair, não tivesse acordado os dois...
Aí foi demais!!!
Eles não entenderam nada e resolveram ver o que estava acontecendo...
Minha mãe ficou HORRORIZADA!!!
Cada porta que ela abria era um susto que ela levava.
Cada canto que ela olhava era uma aberração.
Jamais poderia imaginar que tantas coisas ao mesmo tempo poderiam acontecer diante dos seus olhos, muito menos dentro da sua casa.
Tudo bem que eram todos jovens.
Tudo bem que os tempos eram outros.
Mas era tudo demais!!!
- Minha filha o que é isso?

- Como o que é isso, mãe? É uma festa e são TODOS meus amigos!
- SEUS AMIGOS???? VOCÊ ESTÁ ME DIZENDO QUE SÃO SEUS AMIGOS???? PODE ACABAR COM ESSA HISTÓRIA AGOOOOOOORA!!!!!!!!!!!!!!
- Mas mãe...
- Não tem mas... Acende a luz e manda todo mundo embora!!!
E foi isso que eu tive de fazer...
E às 4h da manhã, todos os meus amigos do Centro Acadêmico e eu ficamos horas limpando a casa, que estava um verdadeiro caos, com os meus pais achando que tinham a filha mais irresponsável do mundo.
Na segunda-feira, a festa foi o assunto mais comentado no IFCS.
Ainda tive de ouvir comentários do tipo:
- Cacete, Bia, eu tava tão doidão, mas tão doidão, que pensei que estivesse num campo todo gramado, que ficava cuspindo no chão...
E essa festa foi comentada durante anos em vários encontros entre amigos.
E outro dia, uma amiga que estava lá, a Andrea, ainda me disse assim:
- Meus filhos, sempre pedem pro Gustavo contar essa história para os amigos deles lá em casa...
E eu, de vez em quando, ainda conto para os amigos que não viveram essa época comigo.
E confesso, custei muito a contar essa história para os meus filhos...

7 comentários:

Lady Shady disse...

Por Deus que isso tinha de virar um curta!!!!!!!!
hahahahhahaha!
bjs

Letícia disse...

Essa história é MA-RA-VI-LHO-SA!!!!
hahahahaha!

Paulinha Tequilahouse ® disse...

por favor não conte esta história para sua neta ou neto :P

bjocas

Anônimo disse...

Amiga querida do coração,
Depois do nosso delicioso e intenso almoço de hoje, tantos papos sérios, de vida madura, nada melhor que entrar no seu blog e ler essa história. A NOSSA HISTÓRIA. O lado hilário dela.
Muito bom ver que a nossa vida juntas teve e tem de tudo, bem misturadinho: histórias como essa, como o dia-a-dia do corredor (mais, no seu caso...) e das salas de aula do IFCS, as festas, o assalto no 416,o biscoito de leite de lei, as muitas passeatas e manifestações, entre as quais a do Dia Internacional da Mulher, assunto tão querido pelo Duda pra me encarnar, viagens pra Terê (com as compras que só nós duas sabíamos fazer...), pra Parati,nossos amores, meu apartamentinho de frente pro Borel, nossos filhos queridos,nossas dores e nossas muitas, muitas, risadas.
E agora, que bom que tem os seus textos para deixar tudo isso registrado. Com tanta beleza, tanto humor, quando é pra ser, e tanta sensibilidade sempre!
Mil beijos, todo amor,
Ana
PS Depois conta a história do 416, que é ótima!

Bia Prado disse...

Ana, minha amiga amada, da vida toda...
Nosso almoço foi o máximo!
Ai, querida, vc estava nessa festa e em todos os momentos importantes da minha vida.
Vou contar o assalto do 416 sim! E muitas outras histórias nossas.
Te amo!!!

Aureliano Mailer disse...

E tem gente que ainda questiona a santidade de seu Edmundo...com a filha!
Hare Baba!
Badih!
Baguandih!

Anônimo disse...

esta estória é fantástica, tb acho que deveria virar um curta.

Bjs,
Si