sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ela me entregou, pra ela eu dedico...

Pra minha irmã

De delicadezas me construo. Trabalho umas rendas
Uma casa de seda para uns olhos duros.
Pudesse livrar-me da maior espiral
Que me circunda e onde sem querer me reconstruo!
Livrar-me de todo olhar que quando espreita, sofre
O grande desconforto de ver além dos outros.
Tenho tido esse olhar. E uma treva de dor
Perpetuamente.
Do êxodo dos pássaros, do mais triste dos cães,
De uns rios pequenos morrendo sobre um leito exausto.
Livrar-me de mim mesma. E que para mim construam
Aquelas delicadezas, umas rendas, uma casa de seda
Para meus olhos duros.

Hilda Hilst

Um comentário:

Anônimo disse...

nossa!!! Essa poesia maravilhosa ficou linda aí no seu blog. Bacana ela sair do livro e pular praí e mais gente poder ler. Obrigada, minha irmã.
um beijo