segunda-feira, 7 de julho de 2008

Além da razão

Falei hoje de você. Depois de muito tempo. Depois de muitos anos.
A dor já não é tão intensa, mas ainda é forte. A boca ainda seca um pouco além. Um tanto de raiva, outro tanto de indignação. Outro ainda de saudade daquele tempo. Não por você, óbvio! Mas pelo o que ainda me cercava. Pelas pessoas que ainda estavam comigo. Pela idade que tinha, pela inocência, pelos sonhos.
Você teve a crueldade dos que querem controlar, segurar pelo medo, torturar. Apavorar. E eu fiquei ali, à espera permanente da sua chamada ameaçadora. De madrugada. Sempre. A escutar, escutar... E a chorar. Muitas vezes sozinha. Todos dormiam. Muitas vezes aos prantos. Às vezes com consolo, com colo. Mas como eu chorei. Tenho certeza que sabia do mal que me fazia. Era isso que você queria.
Nunca te vi. Nunca soube quem você era. Ou é. Se esteve perto. Se ainda está. Nunca vi seu rosto. Só conheci sua voz. Que ficava aqui no meu ouvido. Durantes anos. Você esteve sempre aqui. Comigo. Com as minhas memórias, com as minhas angústias. Construí sua imagem, como num retrato falado.
Por que você me escolheu? Deixar tantas dúvidas. Tantas noites sem dormir. Tanta desconfiança. Tanto desamor. “Um medo enorme, cada vez que você dorme e não possa despertar...”
Mas ainda assim, você não me impediu de acreditar nas pessoas. Nem nos homens. Você não me impediu de acreditar na vida. Às vezes me custa um pouco. Às vezes me desanimo bastante. Mas recupero. Me recupero. Me reinvento. Apesar de você.

3 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhoso!!!!

Amei! Eka perturba mesmo! Chata!

Bjs

Anônimo disse...

eu sei de quem vc tá falando. mas nunca soube medir o qt tudo aquilo pode ter te abalado, apesar de estar tão peto de vc. mesmo não sendo comigo, ainda me lembro do medo, dos sustos, da dúvida, da sombra que cercava as nossas madrugadas e te arrancava de seus sonhos. é preciso esquecer, minha querida.

Reynaldo disse...

Não sei de quem você fala, só sei que lendo esse texto retornei em um
momento da minha vida onde muitas vezes me senti assim, muitas vezes chorei só,
muitas vezes desejei fazer uma viagem sem volta,
muitas vezes desejei esquecer quem eu era e inventar uma nova pessoa, mas a dor que
me fez tudo isso foi passando, ou melhor foi se acomodando em algum lugar dentro de mim,
como sempre o remédio da vida (O tempo) se encarregou disso.
O texto é triste, mas é lindo!
Beijos no coração
Reynaldo